Os Pilares Filosóficos do Educandário Humberto de Campos (EHC): Educação como Ato de Transformação Integral

No Educandário Humberto de Campos (EHC), situado no seio da Cidade da Fraternidade, a educação não é apenas uma tarefa institucional, mas uma missão ontológica. O Projeto Político Pedagógico (PPP) funciona como o fio condutor que alinha os compromissos éticos, filosóficos e metodológicos da escola em relação aos educandos, suas famílias e a comunidade. É por meio desse documento que se sustenta a coerência das ações pedagógicas e se assegura a fidelidade a uma visão profunda da educação como experiência emancipadora.

Na sua essência, o EHC se estrutura como uma Comunidade Educadora — conceito que ultrapassa os muros escolares para abarcar todos os aspectos da convivência social, cultural e afetiva. Assim, as celebrações, os projetos, os rituais coletivos e as campanhas educativas não são acessórios, mas dispositivos vivos de participação e reflexão. São expressões pedagógicas que visam o crescimento individual e coletivo numa atmosfera de partilha, empatia e responsabilidade.

Filosofia Viva: A Alma do Cotidiano Escolar

Os aspectos filosóficos e os valores fundamentais do EHC não habitam unicamente os documentos oficiais: eles são corporificados no dia a dia escolar. São, de fato, o solo sobre o qual se edifica o fazer educativo e o conviver comunitário. Nesse cenário, valores escolhidos por educadores e educandos — Respeito, Responsabilidade, Honestidade, Afetividade, Solidariedade, Sustentabilidade e Empatia — se transformam em práticas concretas, moldando a tessitura relacional da escola.

No cerne dessa filosofia está o Objetivo Síntese que orienta toda a proposta: a Evolução Integral do Ser Humano em Geral e do Educando em Particular. Aqui, aprende-se nas relações, nos vínculos, no pertencimento e na escuta. A escola é compreendida como um nó de redes de aprendizagem, onde o conhecimento é menos um produto a ser transmitido e mais uma vivência a ser compartilhada.

Princípios Filosóficos do EHC

1. Valorização dos Vínculos Familiares e Comunitários
A educação não ocorre em isolamento. No EHC, a escola se reconhece como extensão da comunidade, e vice-versa. Desenvolvem-se estratégias pedagógicas que garantem a inclusão das famílias nos processos decisórios e no cotidiano escolar. A escola se coloca como um serviço a favor da harmonia social e da dignidade comunitária, respeitando os valores familiares e promovendo sua integração efetiva.

2. Primazia ao Desenvolvimento das Potencialidades do Educando
A educação, aqui, transcende o imediato. Não se limita ao tempo presente nem ao espaço da sala de aula. O educando é percebido como ser plural, cujo desenvolvimento resulta da interação entre dimensões socioafetivas, cognitivas, biológicas, culturais, históricas e espirituais. O desafio é criar situações de aprendizagem que não apenas revelem, mas também ampliem essas potencialidades.

3. O Afeto Pedagógico na Formação do Caráter
A afetividade é considerada um princípio filosófico e ético. Mais do que um ambiente emocionalmente seguro, o EHC cultiva um afeto pedagógico estruturante: não-invasivo, não-violento, porém firme e transformador. O educador, ao envolver o educando com ternura e responsabilidade, não apenas transmite saberes, mas mobiliza vontades e desperta consciências.

4. O Respeito e a Fraternidade como Fundamentos das Relações Humanas
No EHC, cada ser é visto como semelhante em essência, embora único em expressão. A convivência escolar é regida pelo respeito mútuo, pela fraternidade universal e pela compreensão das liberdades — sempre dentro dos limites éticos que reconhecem o outro como sujeito de direitos.

5. Uma Educação para a Liberdade
Inspirada nas ideias de Paulo Freire e de outras correntes humanistas, a proposta educativa do EHC tem como meta libertar e não domesticar. Ao integrar o conhecimento acadêmico com os vínculos culturais e comunitários, a escola não limita os horizontes dos educandos, mas os prepara para voar com autonomia numa sociedade marcada por desigualdades.

6. A Relação entre Educador e Educando
O educador no EHC é, antes de tudo, um pesquisador de almas. Ele observa, escuta, compreende e orienta. Sua autoridade não é imposta, mas reconhecida pelo exemplo, pela afetividade genuína e pela coerência ética. Ele deve estar em constante autoformação, pois só quem se educa pode educar o outro.

7. Respeito às Liberdades Democráticas e ao Livre Pensamento
A escola assume o compromisso de ser um espaço onde o pensamento crítico é estimulado com base em fundamentos científicos e filosóficos, num ambiente de neutralidade institucional e liberdade individual. A democracia, aqui, é vivida no cotidiano — no diálogo, nos acordos coletivos, na escuta ativa e na mediação de conflitos.

8. O Cultivo da Espiritualidade
A espiritualidade é compreendida como uma dimensão inalienável do humano. Diferente da religiosidade dogmática, ela se manifesta como busca por sentido, transcendência e conexão com o sagrado. O EHC propõe atividades de contemplação, introspecção, contato com a natureza e respeito à diversidade espiritual como formas de cultivar essa dimensão vital.

Educar é Oferecer Caminhos, Não Impor Trilhas

No EHC, o ato pedagógico é sempre uma oferta — nunca uma imposição. Ele convida o educando ao autoconhecimento e à transformação, oferecendo-lhe liberdade para aceitar ou recusar, desde que consciente de suas escolhas e consequências. O maior desafio a ser combatido não é o erro, mas sim a estagnação, a apatia e o adormecimento da vontade.

🌈 Transformando a Sala de Aula: Estratégias Afetivas e Eficazes para Crianças com Autismo

👩‍🏫 Queridos leitores do blog do Educandário Humberto de Campos,

Sabemos que a sala de aula é muito mais do que um espaço físico — é um ambiente vivo de trocas, aprendizados e afetos. Nesse cenário dinâmico, a inclusão de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) traz à tona a importância de práticas educativas que sejam fundamentadas em evidências científicas, mas também sensíveis às singularidades de cada criança.

📚 Em tempos em que muitos alunos retornam de longos períodos afastados da rotina escolar, é comum que alguns manifestem maior sensibilidade a estímulos, ruídos ou apresentem dificuldades para se engajar nas atividades cotidianas. Isso pode se refletir em comportamentos desafiadores como gritos, recusa em entrar na sala, agressividade, entre outros.

🔎 Nesse contexto, o conhecimento é uma bússola essencial. O educador e pesquisador Lucelmo Lacerda, doutor em Educação e especialista em inclusão escolar de pessoas com autismo, apresenta orientações práticas e profundamente eficazes para que professores e educadores possam acolher, compreender e transformar esses desafios em oportunidades pedagógicas.

🎥 Este conteúdo é inspirado no vídeo disponível no canal Luna ABA, no YouTube. Você pode assisti-lo clicando neste link: Transformando a sala de aula – Lucelmo Lacerda

🚫 Um erro comum: chamar os pais
Quando surge um comportamento agressivo, a primeira tentação pode ser ligar para os responsáveis e pedir que busquem a criança. Embora pareça uma solução imediata, isso pode reforçar a ideia de que agir de forma inadequada é uma forma eficaz de escapar de situações desconfortáveis. No longo prazo, essa prática pode aumentar e até generalizar os comportamentos indesejados para outros ambientes.

✅ Estratégias para transformar a prática
Lucelmo Lacerda compartilha cinco diretrizes fundamentais que podem melhorar não apenas a convivência na sala de aula, mas a qualidade da inclusão de forma profunda e contínua.

🗂️ 1. Aposte na Rotina Visual
🔸 O que é: Trata-se de uma sequência de imagens ou símbolos que representam as atividades do dia, organizadas de maneira clara e previsível.

🔸 Como usar: Disponibilize para o aluno a rotina visual, permitindo que ele mova as imagens conforme as atividades são realizadas (por exemplo: de “Vou fazer” para “Já fiz”).

🔸 Por que funciona: Reduz significativamente a ansiedade e a agressividade, mesmo em tarefas novas. A previsibilidade gera segurança emocional.

🔸 Para quem serve: Tanto para crianças não verbais quanto para aquelas que falam fluentemente.

🔸 Dica prática: É simples e acessível! Dá para montar com materiais como papel plastificado e velcro.

🎯 2. Redefina os objetivos iniciais
🔸 O foco inicial: Não comece com conteúdos curriculares complexos. Antes de ensinar matemática ou ciências, ensine o aluno a estar na sala de aula.

🔸 Como fazer: Use atividades que a criança já domina completamente — as chamadas “atividades tranquilas”. Isso ajuda a desenvolver a habilidade de permanecer e participar sem gerar frustração.

🔸 Por que isso importa: Se a tarefa for difícil demais, o aluno pode se desengajar ou apresentar comportamentos-problema. O objetivo é fortalecer a permanência na atividade e a convivência escolar.

🤝 3. Ofereça opções de escolha
🔸 A estratégia: Em vez de impor uma única tarefa, ofereça duas ou três atividades com o mesmo objetivo pedagógico. Exemplo: “Você prefere fazer este desenho, este quebra-cabeça ou montar com blocos?”

🔸 Por que é eficaz: O simples ato de escolher aumenta o engajamento e diminui os comportamentos desafiadores. Mesmo que todas as atividades sejam feitas, o sentimento de autonomia faz diferença.

🔸 Observação: Exige um pouco mais de planejamento, mas os resultados valem o esforço!

⏳ 4. Faça pausas com reforçadores positivos
🔸 Como aplicar: Divida as tarefas em partes menores e, após cada uma, ofereça um intervalo ou uma recompensa (reforçador).

🔸 Exemplo prático: Use fichas ou “pontos” que a criança acumula para depois escolher uma atividade prazerosa como desenhar, brincar ou assistir a um vídeo curto.

🔸 Vantagem: O processo se torna mais leve e motivador. Com o tempo, é possível aumentar as exigências de forma gradual, conforme o aluno se desenvolve.

🔸 Flexibilidade: Pequenos reforçadores, como sair um pouquinho mais cedo para o recreio, também funcionam muito bem!

🧘‍♀️ E quando a crise já começou?
Essa é a última, mas não menos importante dica!

🔸 Sinais de alerta: Antes da explosão, o aluno costuma dar sinais: parar de interagir, se agitar, falar alto, mostrar resistência. Isso é o que chamamos de fase de aceleração.

🔸 O que fazer: Redirecione o aluno com uma tarefa simples, como buscar algo ou responder uma pergunta fácil. Isso impede que ele associe o comportamento inadequado com “escapar” da atividade.

🔸 Em caso de crise instalada: A prioridade é sempre a segurança. O ideal é que a equipe esteja preparada com formações específicas para lidar com esses momentos, evitando medidas que reforcem comportamentos inadequados (como retirar o aluno da escola a pedido dos pais).

💡 Conclusão: transformar com afeto, ciência e persistência
Aplicar essas orientações exige dedicação, observação atenta e um olhar cuidadoso para o desenvolvimento individual de cada criança. Mas os frutos são grandiosos: mais inclusão, mais respeito às diferenças e uma sala de aula verdadeiramente democrática.

🌱 Para quem quiser se aprofundar, o canal Luna ABA no YouTube reúne um riquíssimo acervo de conteúdos sobre autismo e educação especial.

✨ Que possamos continuar semeando um ambiente escolar mais justo, acolhedor e transformador para todas as crianças!

Educandário Humberto de Campos: uma escola do campo em permanente transformação

Localizado na área rural de Alto Paraíso de Goiás, o Educandário Humberto de Campos (EHC) não é apenas uma escola: é parte integrante de uma história de compromisso espiritual, educativo e social. Sua trajetória está intrinsecamente ligada à comunidade cristã espírita Cidade da Fraternidade (CIFRATER) e ao Movimento da Fraternidade (MOFRA).

As raízes espirituais: o Movimento da Fraternidade (MOFRA) a partir de 1946

A história que levou à criação do EHC começa, de fato, em julho de 1946, em Belo Horizonte, com a recepção de mensagens espirituais que serviram como inspiração e orientação para a criação de um movimento de alcance nacional — o Movimento da Fraternidade (MOFRA) — com o objetivo de colaborar com o progresso espiritual do Brasil. Essas mensagens também direcionaram a fundação de uma obra educativa e assistencial destinada a acolher crianças desamparadas e permitir o renascimento de espíritos que buscavam um novo sistema de vida. Essa obra viria a ser a Cidade da Fraternidade.

Esse período inicial contou com figuras centrais como Rafael Américo Ranieri e Jair Soares, nas manifestações espirituais que levaram à formação dos primeiros Grupos da Fraternidade.

A concretização da obra inspirada pelo MOFRA exigiu uma estrutura institucional de suporte. Em 1956, foi fundada a Organização Social Cristã Espírita André Luiz (OSCAL), com o propósito específico de gerir as ações do Movimento da Fraternidade e seus Grupos da Fraternidade. A OSCAL é a entidade mantenedora da Cidade da Fraternidade e do Educandário Humberto de Campos. A partir de então, o MOFRA intensificou o esforço para a criação da obra coletiva que se tornaria a Cidade da Fraternidade. O estatuto da OSCAL expressa a filosofia do Movimento da Fraternidade, cuja função primordial é coordenar ações voltadas à edificação e consolidação dessa comunidade — tanto no sentido físico quanto no sentido mais amplo, envolvendo os Grupos da Fraternidade espalhados pelo Brasil.

A comunidade que acolheria a futura escola foi fundada em dezembro de 1963. Em 20 de dezembro daquele ano, nascia oficialmente a Cidade da Fraternidade, inicialmente chamada de Cidade da Criança, com o propósito de acolher, em lares-família, crianças órfãs ou sob tutela do Estado. Localizada na Chapada dos Veadeiros, a comunidade foi criada por um grupo pioneiro e, desde o início, é marcada por um profundo compromisso espiritual e educativo, funcionando como polo de trabalho cooperativo para diversos grupos espíritas vinculados ao MOFRA.

Com a comunidade estabelecida, surgiu a necessidade de prover educação para as crianças acolhidas, bem como para os filhos das famílias que se mudavam para a região. Assim nasceu a Escola Primária Humberto de Campos, que funcionava em um dos barracões construídos para a 5ª Semana da Fraternidade, realizada em 1964. Inicialmente, atendeu os filhos do casal pioneiro Romilda e Andalécio Rinco, além de uma criança local.

A notícia da nova escola espalhou-se rapidamente por uma região carente de instituições educacionais, atraindo famílias que se mudaram para matricular seus filhos. A primeira turma contava com 30 estudantes de idades variadas. Crianças vindas de localidades distantes chegavam a se alojar na região durante a semana para frequentar as aulas. Romilda Rinco, uma das fundadoras do EHC, relatou que os primeiros tempos foram de improvisação e coragem: os pais chegavam a cavalo, trazendo mantimentos, enquanto uma estrutura coletiva era erguida com esforço e solidariedade.

A escola foi formalmente registrada em 1970, e sua denominação atual — Educandário Humberto de Campos (EHC) — foi adotada em 1975, após reformas na estrutura do ensino. Desde sua gênese, o EHC sempre se destacou por ser uma escola diferenciada, marcada pelo esforço de muitos profissionais dedicados.

Crescimento, desafios e pluralidade comunitária

A comunidade e a escola continuaram a crescer. Na década de 1980, com a chegada da energia elétrica e o aumento populacional, o EHC já atendia centenas de alunos e passou a incorporar disciplinas práticas como Técnicas Agrícolas, Educação para o Lar, além de atividades como hortas e viveiros — reafirmando o compromisso da escola em ir além do currículo formal.

Um episódio marcante ocorreu em 2003, com o encontro entre o Movimento da Fraternidade e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na região. Apesar das tensões iniciais relacionadas à ocupação de terras, essa aproximação enriqueceu a convivência local, tornando a comunidade mais plural. Os filhos de membros do MST passaram a estudar no EHC, fortalecendo o caráter inclusivo da escola.

Estudos sobre a Educação do Campo e outras abordagens pedagógicas começaram a ser realizados a partir de 2013, no Grupo de Estudos em Ciências da Educação Eurípedes Barsanulfo. Assim se iniciou uma caminhada em busca de uma educação mais alinhada às necessidades do campo e às perspectivas de desenvolvimento humano integral.

Ainda em 2013, a Confraternização de Mocidades Espíritas do Movimento da Fraternidade (Comemofra) — encontro anual que reúne jovens de todo o país — adotou como tema “Sustentabilidade: Educação para o Exercício da Liberdade”, inserindo reflexões sobre permacultura e alternativas educacionais na agenda do MOFRA.

O educador José Pacheco visitou o EHC em 2014 e 2015. Em 2016, a escola foi reconhecida pela Secretaria de Educação de Goiás como instituição com perfil inovador, sendo incluída em um projeto piloto para a implementação dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) no município de Alto Paraíso de Goiás. Em agosto de 2017, o EHC passou a oferecer a modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA), inicialmente no período noturno. Em 2018, essa proposta passou a operar no formato de alternância.

Transformações pedagógicas e reeducação docente

Um marco fundamental na consolidação da proposta pedagógica do EHC foi a elaboração do novo Projeto Político Pedagógico (PPP), em 2018. Embora a escola já realizasse, historicamente, práticas compatíveis com a Educação do Campo, foi nesse documento que o princípio passou a ser oficialmente reconhecido como diretriz pedagógica.

Entre 2018 e 2019, a escola vivenciou um processo intenso de transformação, com a implementação de novos dispositivos pedagógicos, entre os quais destacam-se:

  • Tutoria: espaço de construção do projeto de turma e de integração do conhecimento em uma perspectiva cooperativa e comunitária;
  • Registro de Aprendizagem: estudantes registram suas aprendizagens, relações significativas e dificuldades, promovendo a autoavaliação e auxiliando o planejamento docente;
  • Assembleias e gestão democrática: incentivo à tomada de decisões coletivas;
  • Trabalho por projetos: articulação entre teoria e prática;
  • Valorização da estética e das linguagens artísticas, com foco em identidades culturais, por meio de disciplinas eletivas em Artes.

Nesse período, o EHC reforçou seu compromisso com os saberes locais e as trocas intergeracionais. Projetos como o Banco de Sementes e a Casa de Sementes Tia Bezinha exemplificam esse movimento, conectando os estudantes à biologia, à ecologia, à cultura e à história da região.

Em 2019, foi realizado o Intercâmbio de Educadores, um projeto de visitas a escolas transformadoras em outras regiões do Brasil. Essa experiência teve um profundo impacto sobre os educadores, reforçando a compreensão e a crença na viabilidade da educação transformadora. Os participantes registraram suas vivências em diários de campo, relatos e um seminário, os quais deram origem ao livro Educador Transformador.

Resiliência e reinvenção na pandemia e além

O EHC também firmou parcerias importantes, como com o Instituto Ser Integral, que apoia a formação docente em letramento e numeramento. Em junho de 2019, a escola sediou a edição regional da Conferência Nacional de Alternativas para uma Nova Educação (CONANE) na Chapada dos Veadeiros.

Com a chegada da pandemia, em março de 2020, surgiram desafios inéditos. A necessidade de lidar com ferramentas digitais e processos remotos exigiu reinvenção contínua. Os educadores se adaptaram rapidamente, mantendo contato com os estudantes por meio de celulares e outros meios acessíveis. A pandemia foi encarada como um divisor de águas — um período de dificuldade que também estreitou os vínculos com as famílias e evidenciou o desenvolvimento conjunto de pais e filhos.

Em 2022, com o retorno presencial, os desafios envolveram a retomada da convivência, os cuidados com a saúde e a gestão das sequelas emocionais deixadas pelo isolamento. O EHC procurou integrar as lições aprendidas durante o ensino remoto, especialmente no fortalecimento da parceria com as famílias. A proposta de educação transformadora, já em curso, encontrou bases sólidas em um núcleo docente alinhado, embora ainda exigisse esforço, compromisso e constante reeducação.

Conquistas recentes: corpo, mente e inovação pedagógica

A partir de 2017, o EHC passou a dar maior atenção à educação física e ao desenvolvimento do corpo e do espírito por meio do esporte. Atividades esportivas se intensificaram no cotidiano da escola, tanto em práticas regulares quanto em projetos interdisciplinares, consolidando o esporte como instrumento de socialização, disciplina, cuidado com o corpo e valorização da saúde física e emocional.

Já entre os anos de 2023 e 2025, a escola investiu no aprofundamento da formação docente voltada ao uso da inteligência artificial na educação, com foco em metodologias mais criativas, análise de dados e personalização da aprendizagem. Esse movimento de reeducação dos educadores tem sido fundamental para adaptar-se aos novos tempos, sem abrir mão dos princípios humanistas.

Nesse mesmo período, foi criada a Sala de Apoio Psicopedagógico, um espaço estruturado de escuta, acolhimento e mediação de processos de aprendizagem, voltado ao atendimento de crianças com dificuldades pedagógicas e/ou emocionais. Esse cuidado especializado fortalece o compromisso da escola com o desenvolvimento integral de seus estudantes.

Presente e futuro de uma escola viva

Nesse período, o EHC deu continuidade ao seu processo evolutivo, buscando atender às necessidades da comunidade. Um trabalho de resgate histórico da escola, realizado durante as Olimpíadas de Humanidades em 2017, reforçou o papel fundamental do EHC na região desde a década de 1960.

Ao integrar práticas sustentáveis e princípios da Educação do Campo, o EHC inspira outras escolas a se tornarem agentes de mudança, preparando seus estudantes para os desafios do século XXI. A escola e sua mantenedora têm o compromisso com o desenvolvimento social e sustentável da região do Assentamento Sílvio Rodrigues, dentro de suas possibilidades.

A história do EHC — construída por muitas mãos, corações e sonhos de pessoas vindas de diversas partes do país — é um testemunho de resiliência cultural e ambiental. É uma escola que acolhe, dialoga, resiste e transforma, pavimentando um caminho em direção à emancipação humana e à construção de um Bem Viver verdadeiramente coletivo.

Esse processo de transformação — não linear — é, na verdade, um movimento contínuo de superação de contradições. Assim, a jornada do Educandário Humberto de Campos, iniciada na inspiração espiritual de 1946, concretizada na comunidade de 1963 e na escola de 1966, segue viva e em transformação para além de 2025, impulsionada pela fé, pela luta e pela visão de uma educação que liberta e prepara para a vida em seu território singular.

Onde e Para Quem Floresce a Educação Transformadora do Educandário Humberto de Campos na Chapada dos Veadeiros?

A busca por modelos educativos que dialoguem com o contexto rural, valorizando saberes locais e promovendo transformação social, é um desafio central da Educação do Campo. No coração do Brasil, em meio à riqueza natural e às lutas por direitos na Chapada dos Veadeiros, o Educandário Humberto de Campos (EHC) destaca-se como um espaço de transformador desde sua fundação em 1966. Mas onde está localizada esta escola, e quem são os protagonistas de sua história?


Uma Escola Enraizada no Campo e na História Coletiva

O EHC está situado na zona rural de Alto Paraíso de Goiás (GO), dentro da Cidade da Fraternidade — comunidade cristã-espírita fundada em 1963 com o ideal de acolher crianças em situação de vulnerabilidade e construir um “novo modo de viver” baseado na fraternidade. Localiza-se a 35 km do centro urbano de Alto Paraíso e a cerca de 230 km de Brasília, distanciando-se propositalmente dos grandes centros para integrar-se ao território rural. O acesso se dá pela GO-118, km 139, em uma região marcada por assentamentos, fazendas e comunidades tradicionais.


Quem São os Protagonistas Desta Educação?

O EHC atende prioritariamente educandos de comunidades rurais e assentamentos, como:

  • PA Sílvio Rodrigues: assentamento criado em 2003 por famílias do MST, hoje com cerca de 500 habitantes;
  • PA Esusa e Acampamento Dorcelina Folador, áreas de luta pela reforma agrária;
  • Balsa do Rio TocantinzinhoVãozinho e outras localidades rurais.

Quer visualizar essas localidades? Acesse o mapa de nosso território aqui.

Essas populações vivem em um contexto de tensão entre o agronegócio e a agricultura familiar, mas carregam saberes ancestrais e laços profundos com a terra. O EHC reconhece esses educandos como sujeitos históricos, cujas vivências orientam uma proposta pedagógica que valoriza a autonomia, a cooperação e a conexão com o território. Mais do que uma escola no campo, o EHC é uma escola do campo. Sua pedagogia nasce do diálogo com o chão da Chapada: mapeia saberes locais, promove atividades artísticas vinculadas à cultura do território e o fortalecimento dos direitos sociais. O EHC floresce como um espaço onde educação e vida se entrelaçam, demonstrando que é possível cultivar uma escola gratuita e transformadora, enraizada no campo, e, ao mesmo tempo, aberta ao mundo.