Casa da Criança e Ensino Fundamental I

Nesse Post, elencamos a seguir alguns trechos de nosso PPP em que se desenvolvem as bases conceituais e os dispositivos pedagógicos da Casa da Criança e do Ensino Fundamental I:

1 – Educação Infantil – Casa da Criança.

Alinhada à concepção que vincula educar e cuidar, o EHC acolhe as vivências e os conhecimentos construídos pelas crianças no ambiente familiar e comunitário, articulando-os em suas propostas pedagógicas. Objetivamos a ampliação do universo de experiências, conhecimentos e aprendizagens das crianças, diversificando e consolidando novas leituras de mundo, socialização, autonomia e comunicação, atuando de maneira complementar à educação familiar.

O espaço da Casa da Criança, centrado na proposta do acolhimento amoroso e do cuidado, oportunizará tais aprendizagens de forma espontânea e lúdica; a experimentação e a exploração naturais, próprias à fase infantil, de forma segura, alegre e prazerosa, em um ambiente mais próximo de um lar do que de uma escola. Nesse contexto, o diálogo, o compartilhamento de responsabilidades entre a Casa da Criança e as famílias são essenciais. O conhecer a si, ao outro, à natureza de forma geral e à cultura são elementos indissociáveis na nossa prática. A fim de reunir elementos para reorganizar tempos, espaços e situações que garantam o direito de aprendizagem de todas as crianças, os diversos registros feitos em diferentes momentos, tanto pelos professores quanto pelas crianças (como relatórios, portfólios, fotografias, desenhos e textos), poderão evidenciar a progressão ocorrida durante o período observado, sem intenção de seleção, promoção ou classificação de crianças em “aptas” e “não aptas”, “prontas” ou “não prontas”, “maduras” ou “imaturas”.
Na primeira etapa da Educação Básica e de acordo com os eixos estruturantes da Educação Infantil (interações e brincadeiras), a BNCC estabelece cinco campos de experiências, nos quais as crianças podem aprender e se desenvolver: a) O eu, o outro e o nós; b) Corpo, gestos e movimentos; c) Traços, sons, cores e formas; d) Escuta, fala, pensamento e imaginação; e) Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações. Em cada campo de experiências, são definidos objetivos de aprendizagem e desenvolvimento organizados em grupos por faixa etária.

1.1 – A Transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental.

A transição entre essas duas etapas da Educação Básica requer muita atenção, para que haja equilíbrio entre as mudanças introduzidas. Será garantida a integração e continuidade dos processos de aprendizagem das crianças, respeitando suas singularidades e as diferentes relações que elas estabelecem com os conhecimentos, assim como a natureza das mediações de cada etapa. Serão estabelecidas estratégias de acolhimento e adaptação tanto para as crianças quanto para os docentes, de modo que a nova etapa se construa com base no que a criança sabe e é capaz de fazer, em uma perspectiva de continuidade de seu percurso educativo. Conversas, visitas e troca de materiais entre os professores das etapas de Educação Infantil e Ensino Fundamental (anos Iniciais) também serão importantes para facilitar a inserção das crianças nessa nova fase da vida escolar. A fim de auxiliá-las a superar com sucesso os desafios da transição, é indispensável um equilíbrio entre as mudanças introduzidas, a continuidade das aprendizagens e o acolhimento afetivo, de modo que a nova etapa se construa com base no que os educandos sabem e são capazes de fazer, evitando a fragmentação e a descontinuidade do trabalho pedagógico.

  1. Ensino Fundamental I: Anos Iniciais.

Nesse período da vida, as crianças estão vivendo mudanças importantes em seu processo de desenvolvimento integral que repercutem nas relações consigo mesmas, com os outros e com o mundo. A proposta pedagógica, ao valorizar situações lúdicas de aprendizagem, intenciona uma articulação com as vivências na Educação Infantil a novas possibilidades de ler o mundo e formular hipóteses sobre os fenômenos, de testá-las, de refutá-las, de elaborar conclusões, em uma atitude ativa na construção de conhecimentos nas séries iniciais do ensino Fundamental. Introduzidos, agora, num universo de múltiplas linguagens, incluindo os usos sociais da escrita e da matemática, iniciam a participação no universo do letramento e da construção de novas aprendizagens na escola e para além dela. A afirmação de sua identidade em relação ao coletivo no qual se inserem resulta em formas mais ativas de se relacionarem com este meio social e com as normas que regem as relações entre as pessoas dentro e fora da escola, pelo reconhecimento de suas potencialidades, pelo acolhimento e pela valorização das diferenças. Amplia-se o desenvolvimento da oralidade e processos de percepção, compreensão e representação. Os educandos se deparam com uma variedade de situações que envolvem conceitos e fazeres científicos, tornando-se capazes de realizar observações, análises, argumentações, potencializando descobertas. As vivências do contexto sociofamiliar e cultural do educando, suas memórias e seu pertencimento a um grupo, estimulam a curiosidade e a formulação de perguntas, resultando em melhor compreensão de si mesmos, do mundo natural e social, das relações dos seres humanos entre si e com a natureza. As características dessa faixa etária demandam um trabalho no ambiente escolar que se organize em torno dos interesses manifestos pelas crianças, de suas vivências mais imediatas para que, a partir delas possam progressivamente ampliar a capacidade de compreensão, o que se dá pela mobilização de operações cognitivas cada vez mais complexas e pela sensibilidade para apreender o mundo, expressar-se sobre ele e nele atuar. Nos dois primeiros anos do Ensino Fundamental, a ação pedagógica terá como foco a alfabetização, a fim de garantir amplas oportunidades para que os alunos se apropriem do sistema de escrita alfabética de modo articulado ao desenvolvimento de outras habilidades de leitura, escrita e ao seu envolvimento em práticas diversificadas de letramentos.

No Ensino Fundamental I o trabalho será desenvolvido através de pesquisas e projetos, em que os educandos aprendem pouco a pouco a traçar seu próprio caminho no conhecimento. Parte-se da curiosidade das crianças. Ao aprenderem a fazer seu roteiro de perguntas sobre o que desejam saber, seja um roteiro falado, escrito ou desenhado e nos momentos em que há outras crianças interessadas pelo mesmo tema, ela poderão pesquisar juntas, sempre orientadas e acompanhadas pelo educador. As crianças terão oportunidade de realizar atividades externas e aulas-passeio, buscando incentivar a apropriação do conhecimento de maneira contextualizada. Os conteúdos curriculares serão organizados de acordo com a BNCC (Base Nacional Comum Curricular), entrelaçando-os com os princípios da Arte Educação, o Currículo de Referência do Estado de Goiás, as Diretrizes de Educação para o Campo e, por fim, os parâmetros de implementação de uma comunidade educadora. Além disso, e tendo por base o compromisso da escola de propiciar uma formação integral balizada pelos direitos humanos e princípios democráticos, é preciso considerar a necessidade de desnaturalizar qualquer forma de violência nas sociedades contemporâneas, inclusive a violência simbólica de grupos sociais que impõem normas, valores e conhecimentos tidos como universais e que não estabelecem diálogo entre as diferentes culturas presentes na comunidade e na escola.

10 – Dispositivos Pedagógicos Aplicados a Cada Etapa (da Educação Infantil ao 5º Ano) :

10.1 – Casa da Criança (Educação Infantil)

a) Aconchego:

A cada dia as crianças são recebidas com danças e músicas. Logo após o movimento, as crianças sentam em roda para conversarem sobre fatos ou acontecimentos que queiram compartilhar com o grupo. A espiritualidade é vivenciada todas as manhãs por meio de meditação, escuta ativa da natureza e preces conduzidas tanto pelas crianças quanto pelas educadoras.

b) Rotina e revisão da rotina:

As rotinas são organizadas em atividades de grande grupo/pequeno grupos interativos, de adulto/criança, de criança/criança e de adultos em equipe. O ambiente é organizado a partir dos ambientes temáticos onde a criança poderá se inscrever na atividade que aquele ambiente proporciona.
Durante a semana as crianças têm uma rotina fixa, que é revisada a cada semestre.

c) Reconhecimento de território:

As crianças participarão de atividades de reconhecimento do espaço comunitário e passeios; atividades formativas tanto em oficinas quanto em rodas de conversa; e apresentações culturais, sempre com a anuência formal dos pais ou responsáveis. Nessas múltiplas oportunidades educativas, agentes do território poderão compartilhar seus saberes de forma lúdica e integrativa.

d) Projeto ou plano do dia:

Este é um momento de construção, com a participação das crianças, da programação das atividades do dia. Ocorre durante as boas vindas e aconchego. O plano do dia será documentado pelos educandos (em suas múltiplas expressões de linguagem) e pela educadora (por meio de portfólio pessoal, fotografia, vídeo, etc.). Tais registros possibilitarão às educadoras perceber as necessidades de aprendizagem de cada criança, os focos de interesse e a partir daí formular novas estratégias e concepções para uma aprendizagem realmente significativa.

e) Cuidados com a Natureza
Valorizar relações harmônicas com a natureza desde a pequena infância é uma prioridade. Diariamente são realizadas práticas que incentivam o cuidado como coletas de sementes, visitas e cuidados de árvores nativas, cuidado de canteiros e jardins, além de colheita e degustação de frutas de cada época.

10.2 – Ensino Fundamental ( 1º ano ao 5º ano):

a) Aconchego:

Durante os primeiros 30 minutos da manhã as crianças se reúnem em círculo com suas próprias turmas ou com os colegas de todo o ensino fundamental. A cada dia são vivenciados um gênero literário, musical, danças, movimentos tradicionais da região e semanalmente é realizado o momento cívico.

b) Rotina diária:

A rotina diária é uma organização do trabalho pedagógico que acolhe os acontecimentos do cotidiano e as especificidades culturais e sociais das crianças e define a maneira como as crianças constroem experiências de aprendizagem significativas tendo como base os componentes curriculares do Currículo Referência do Estado de Goiás e a Base Nacional Curricular Comum.
A rotina ressalta a participação ativa dos/as educandos/as em uma diversidade de situações: eles/as passam um tempo estudando individualmente, com o/a educador/a, em pequenos e grandes grupos, em ambientes diferenciados, com educadores comunitários e elaborando seus projetos.

Aprendizagem a partir de jogos e materiais concretos (ludomatemática)

Para a representação de ideias e conceitos em matemática são utilizados materiais concretos ou manipulativos. Eles garantem os pressupostos da aprendizagem significativa considerando que a criança é a verdadeira agente do seu processo de aprendizagem, aprendizagem se dá por descobrimento e criação, atividade exploratória é um instrumento potente para a aquisição de novos conhecimentos.

Os jogos em pequenos grupos com os materiais concretos permitem o desenvolvimento cognitivo, emocional e social da criança. Nos momentos dos jogos e manipulação de materiais concretos na aprendizagem matemática as crianças escolhem qual área querem estudar e se dividem em pequenos grupos.

Letramento crítico a partir dos gêneros textuais orais e escritos (interdisciplinar)

A literatura, nos anos iniciais, será trabalhada com o objetivo estético pleno, capaz de imprimir marcas significativas nas crianças enquanto leitoras críticas. Para encantar as crianças com a literatura, estamos construindo instalações em lugares confortáveis para ler o livro em voz alta, fazer contação de história, teatro com bonecos, teatro com fantoches, teatro de sombras entre outras estratégias de encantar/encantar-se na/pela literatura.

Dessa forma, partimos da hipótese, ancorada na perspectiva histórico-cultural, de que ocorrem mudanças qualitativas nos processos de desenvolvimento cultural vivido por adultos e crianças em suas vivências com a literatura como potência de arte.
Semanalmente as crianças escrevem cartas para trocarem entre si, as crianças tem um livro da vida onde usam a escrita para reelaborarem as experiências vividas e como forma de autoconhecimento. Os projetos que as crianças escrevem são reescritos a cada fase de planejamento, refletindo sobre as formas convencionais de escrita e os regionalismos da fala que também estão são analisados. Discutir sobre os contextos de produção da linguagem e suas variantes é realizado no processo de reescrita. Os projetos de cada mês são registrados tanto online quanto nos fichários de acompanhamento de aprendizagem por projetos.